quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sam

Desculpe pelo o atraso, sei que ficou preocupada com a minha demora.
Se já estou bem? Desculpe, não posso lhe garantir nada. Mas sei que hoje estou melhor do que ontem, e que amanhã estarei melhor do que hoje.

Eu estava na praia, Sam.
Quer saber de uma coisa que aconteceu?
Enquanto eu estava lá na praia, um senhor, de mais ou menos uns 70 anos, posicionou-se ao meu lado. Não me assustei com a sua aproximação, muito pelo o contrário, eu me senti tranquilo ao vê-lo observando as ondas que se quebravam bem aos nossos pés. Ele tinha um olhar singelo, e quando olhava mais adiante, parecia ver algo além do horizonte, algo que maravilhava os seus olhos. Ele passou duas vezes suas mãos enrrugadas sobre a água salgada, e fechava os olhos ao senti-la em seus dedos. Eu o observei atentamente. Ele agia com muita sutileza, sem pressa nenhuma. Parecia que ele podia ficar horas alí sentindo o mar em suas mãos e pés, vendo o sol que logo se pusera no horizonte, e sentindo a brisa fria que movia seus cabelos grisalhos. Ele não olhava pra mim, era como se eu não estivesse ao seu lado. Até que ele falou:

"Não entendo porque as pessoas precisam de muito para se sentirem felizes. A maior ignorância do ser humano é procurar a felicidade se ele não consegue enxergá-la nas pequenas coisas. Suas mentes estão ocupadas demais com o desnecessário, assim como a sua James. Grande parte da sua mente está ocupada com o passado. Há pessoas, como você, que não deixam o passado ir embora, e quando elas fazem isso, ele realmente não vai, e fica como uma grande sombra atrás de você, lhe assombrando e lhe impedindo de viver o agora. Todos os dias eu me pergunto porquê vocês fazem isso. James, eu sei, a vida é complicada, mas só é difícil para aqueles que tem dificuldade em saber como ela realmente deve ser levada. Só alguém extremamente em paz é capaz de gerenciar um simples pôr-do-sol, ao um espetáculo aos seus olhos. A felicidade está na sua frente, mas, infelizmente, as pessoas preferem olhar para os lados. Do pouco que tenho, muito sou, mais do que os que muito têm e nada são."

Ele simplesmente foi embora depois de dizer isso.
Nem me pergunte como ele sabia o meu nome, também estou sem entender até agora.
É, Sam, talvez Deus o tenha o enviado para me dizer essas palavras.
E foi por isso que demorei. Depois de ouvir tudo isso, eu simplesmente virei uma estátua ali. Fiquei lá, com os olhos fitando o horizonte.

Sinceramente, não me arrependo do que fiz, nem do o que não fiz. Hoje sou o que sou graças aos meus atos que fizeram com que eu chegasse a esse momento. Pois só depois de ter passado por tudo o que passei, foi que eu pude ver o verdadeiro valor das coisas, e até mesmo o meu verdadeiro valor. Afinal, uma vida gasta cometendo erros não é mais honrada, mas é mais útil do que uma vida gasta fazendo nada, como diria George Bernard.

Loucura? Somos todos loucos, Sam. Eu só escolho os meus próprios caminhos para chegar à sanidade.
Cada pessoa tem a sua forma de viver a vida, cada pessoa tem a sua estratégica de virar o jogo. E o meu é esse. Sim, é doloroso. Mas às vezes, é preciso sentir algo para saber que ainda estamos vivos. E como somos loucos! Nós procuramos por algo que nos desperte dos sonhos e das ilusões, mas também procuramos por um rompante, algo que nos tire da rotina e da comodidade.

Sim, sei que me perdi no passado, mas só porque estou perdido, não significa que estou perdendo. Sei o que sou, e sei também que os dias anteriores aos de ontem não importam mais.

Sabe, Sam, finalmente descobri algo que antes eu não entendia. As coisas que acontecem no nosso cotidiano, são coisas realmente inexplicáveis, e é perca de tempo pararmos as nossas vidas para tentar entendê-las. É assim mesmo, tem que deixar o filme continuar e acabar, se não, não iremos ter tempo suficiente para assistir aos outros que estão nos esperando na estante. E vai ser sempre uma surpresa, afinal, nunca sabemos o que cada filme tem guardado para nós. Sempre iremos nos surpreender com o final de cada história.

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