Novamente pude avistar a porta aberta, caminhei lentamente enquanto meus pés sangravam ao pisar nos cacos de vidros espalhados pelo chão. Eu não me importava, aquilo não me machucava, eu só queria seguir rumo à liberdade. Rumo à libertinagem.
O céu continuava azul e coberto de nuvens branquinhas feito algodão, e gigantes. Amei, desamei e amei de novo. Tudo aquilo era surreal demais, maravilhoso demais, mas ao mesmo tempo era algo assustador e solitário. Segui em frente deixando as lágrimas detrás da porta, e deixando os pesadelos debaixo do travesseiro sujo e rasgado, porém útil para apoiar minha cabeça, quando na verdade eu não tinha ninguém pra me apoiar.
As pessoas continuavam as mesmas, faces refletindo o cansaço da vida. Meus olhos vagavam atrás de algo diferente, algo que transbordasse felicidade. E ao passar por mim, a menininha sorriu. Serenou meu coração com aquela atitude tão simples e inocente.
Os carros continuavam em trânsitos e o semáforo ainda ia do vermelho para o amarelo, do amarelo para o verde. E vice-versa. Sinal de que tudo ainda era o mesmo. Meus pés estavam frios, minhas mãos geladas e o meu coração, já, trincado. Motivos do qual eu desconhecia, e que reconheceria um dia. Quem sabe.
Então ele chegou e me abraçou. Disse o que eu não queria escutar, mas era preciso ouvir. Seu cheiro tinha mudado para menta amadeirada, seu cabelo estava grisalho e a velhice estava ficando mais evidente, mas o seu olhar ainda era o mesmo, singelo e apaixonante. Disse-lhe que não poderia ficar, dei-lhe um beijo em sua bochecha rosada e parti. Ele acenou de longe e logo desapareceu em meio à multidão.
Corri, o tempo estava contra mim. O coração ia desacelerando aos poucos. O corpo ia perdendo os sentidos. Não senti a queda, e as pálpebras foram se fechando. Eu ainda podia ver um pedacinho do céu que aparecia entre as folhas da gigantesca árvore. Um último suspiro, cheiro de terra..
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